Palestra





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Crônica sem jabuticabas

Crônica sem jabuticabas
Antonio Prata

Estava sentado no fundo do ônibus vazio. Dia ensolarado, trânsito livre, uma brisa amena e improvável lambia a cidade de São Paulo. Férias, dentro e fora de mim. Meus pensamentos iam tão soltos e distantes que já haviam rompido o fino fio que os ligava à minha cabeça: se me perguntassem por onde andavam, não saberia dizer. Foi então que surgiu diante de mim a idéia, nítida e apetitosa: jabuticaba. Há quanto tempo eu não comia uma jabuticaba?
Em poucos quarteirões, passei da distração à obsessão: tinha que comer jabuticabas. Fiquei lembrando da infância na fazenda de um amigo, tardes e tardes no pomar, a árvore cada vez mais branca e o chão cada vez mais preto com as dezenas de cascas espalhadas...
Desci do ônibus na frente de um supermercado. Entrei na enorme loja fazendo um discurso interno sobre as maravilhas da modernidade, todos aqueles itens à minha disposição, num único local: pasta de dentes, suco de caju, tampa de privada, moela de frango, pilhas alcalinas, bacias coloridas, maracujás... Morangos... Mangas... E as jabuticabas???
Pedi ajuda a um funcionário que passava por ali. Ele me olhou como se meu pedido fosse absurdo, uma excentricidade. Pegou então um radinho e, depois de um breve chiado, soltou: "ô Anderson, você sabe se a gente tem jabuticaba?". Do outro lado o tal do Anderson respondeu, depois de algum suspense: "Negativo, Jailson, negativo". Jailson olhou para mim, com certa consternação (não sei se calculada ou sincera) e repetiu, como se eu não tivesse ouvido: "Negativo, senhor".
Supermercado inútil, repleto de coisas inúteis, nenhuma delas jabuticaba. Saí. Andei alguns quarteirões, achei uma quitanda. Nada por ali também. "Você sabe se eu encontro em algum lugar por aqui? Sabe se é época? Se tem algum mês do ano, assim, que tem jabuticaba e outros que não tem?". "Olha moço, sei lá, comecei a trabalhar aqui anteontem..."
Fui para casa. Já mais movido pela birra que pelo desejo, vasculhei na internet as prateleiras de todas as redes de supermercados da cidade. Nada. Não havia, na quarta maior metrópole do mundo, na cidade mais rica da América do Sul, uma única, uma mísera jabuticaba. Se naquele exato momento eu quisesse comprar uma máquina industrial de lavar roupas, um quilo de maconha, um caminhão-pipa, sexo, pastilhas importadas para dor de garganta, três peixinhos dourado, sexo sadomasô, um DVD do Julio Iglesias cantando em Acapulco, eu poderia.Mas não queria. Queria jabuticabas.
Naquele instante, o homem ter ido à Lua. Ter clonado uma ovelha, pintado a Capela Cistina, inventado a penicilina, o avião, a pipoca de microondas e todas outras conquistas da civilização... não me valiam de nada, na monumental e incontornável ausência da jabuticaba.
(Texto e Interação. William Cereja e Thereza Cochar. 2009)

Coquetel nas escolas

COQUETEL NAS ESCOLAS
O que é?
O programa COQUETEL nas Escolas consiste no envio de revistas COQUETEL, de forma gratuita, para as escolas públicas e particulares de todo o Brasil, cabendo às instituições apenas o custo de postagem.
Sucesso desde a sua criação na Bienal do Livro de 2001, o programa foi aprovado pelo MEC (OFÍCIO CIRCULAR Nº 001/02/MEC/GM/ASS/CAB PROTOCOLO - Nº 304/2002) e vem sendo utilizado por mais de 16.000 instituições de ensino com a finalidade de aumentar o rendimento dos alunos em sala de aula.
Tornando as aulas mais leves e descontraídas, o programa auxilia no aprendizado levando o lúdico a alunos e professores, proporcionando conhecimento e diversão. Desse modo contribui para a educação de milhares de crianças e jovens, pois o hábito de fazer COQUETEL desenvolve a percepção visual, enriquece o vocabulário e aumenta o poder de concentração.
Para participar, a escola deverá se cadastrar e seguir todas as orientações descritas em “Como participar”.

Sua escola quer participar? Como participar?
PARA ESCOLAS JÁ CADASTRADAS:
Basta clicar em "Atualize seu pedido", caso deseje alterar algum dado, como a quantidade de revistas a receber. Se não for fazer nenhuma alteração, apenas verifique o custo de postagem, faça o depósito nos meses já escolhidos e envie o comprovante por fax, colocando o código da sua escola.
PARA ESCOLAS AINDA NÃO CADASTRADAS:
1. Preencha todo o formulário de cadastro no site, colocando o tipo, a quantidade de revistas e a periodicidade desejados;
2. Verifique na tabela (no link no final desta página) o valor da postagem referente à quantidade de revistas desejada sempre no dia em que for fazer o depósito;
3. Receba automaticamente, via e-mail, o código da sua escola no Programa. Quando passar o fax com o comprovante de depósito, coloque o nome da escola e esse código;
4. **caso não receba o código por algum motivo, faça o procedimento normalmente. Neste caso, quando passar o fax com o comprovante de depósito, coloque o nome da escola e o endereço completo.
5. Faça o depósito na conta 386565-7, agência 3370-7, Banco Bradesco.
6. Envie o comprovante pelo fax 0(xx)21 2290-7185, colocando o nome e o código da escola (ou endereço, caso não receba o código).

A escola receberá as revistas em 20 dias úteis, somados ao prazo de envio dos Correios (10 dias).
Obs: As revistas continuam sendo gratuitas, porém há os custos de envio. Os envios serão feitos por ENCOMENDA NORMAL.

Observações:
Cada remessa só será enviada após o seu respectivo pagamento.
As revistas estarão disponíveis em pacotes fechados de 100, 200, 300, 400, 500 unidades. No caso de um pedido de 1.300 revistas, por exemplo, serão somados 2 pacotes de 500 mais 1 pacote de 300 unidades.
As revistas destinadas ao programa são:
Pré - Revista Brincando e Aprendendo (a partir de 3 anos)

• Da 1ª à 4ª série - Revista Picolé
• Da 5ª à 8ª série - Revista Fácil

Além destas, estão disponíveis também:
• Crosswords (em inglês)
• Sudoku
• Desafios de Lógica
Para qualquer informação adicional escreva para: coquetel_escolas@ediouro.com.br

PROGRAMA COQUETEL NAS ESCOLAS 2009
Tabelas de custos de envio por quantidade de revistas ( com fonte na tabelas dos Correios )
• Tabelas sempre sujeitas a alteraçao, de acordo com reajuste por parte dos Correios.*
• Atualizada em 7 de julho 2009
Quantidade Peso(Kg) De capital-capital De capital-interior Destino
100 Revistas 3,24 R$ 14,20 R$ 16,30 RJ
200 revistas 7,35 R$ 20,40 R$ 23,20
300 revistas 11,705 R$ 26,790 R$ 30,30
400 revistas 15,49 R$ 33,00 R$ 37,00
500 Revistas 19,3 R$ 39,10 R$ 43,60







Obs.: Para quantidades acima das disponíveis nesta tabela, combine as quantidades.
Exemplo: para o envio de 700 revistas, a quantia a ser depositada será referente a soma
dos valores de 500 revistas com o valor de 200 revistas.

Memórias

Memória

Textos s de memórias
Jania
Já não aguento mais essa solidão, memórias, angústias, dói o meu coração! Meus pensamentos voam, transpassam a imaginação e me vejo num riso, alegria... logo então a realidade sucumbe a minha fantasia Me trazendo a dureza, tristeza do dia, sem a tua companhia minha bela Maria.
Janeti

O lugar onde vivo todos querem viver e os passarinhos também, mas Deus que sabe o que fazer.
O lugar onde vivo eu acordo de manhã e os sabiás ficam cantando.
O lugar onde vivo todos querem morar porque lá tem pomar onde cantam os sabiás.

Jania
Meu bairro é carente isso não escondo não, mais aqui tem gente honesta com amor no coração. Tem uma escola muito legal que para os alunos é especial , minha cidade é Cataguases, no céu dela tem lindas aves , nessa cidade não tem violência pois temos amor em nossa convivência.
Suelen Pereira Silva
O lugar onde eu moro Só tem gente sorridente Ele tem muitas coisas Para animar a gente O lugar onde eu moro tem cantigas e festanças Quando é festa de quadrilha Rola beijos e muita dança O lugar onde eu moro tem bastante coleguinhas Quando a gente amontoa É aquela gritaria.
Suelen Pereira Silva

Moro numa reta
Por isso ando de bicicleta;
As vezes estou num círculo
Passeando com meu veículo;
Adoro ler contos
Para ajuntar pontos;
Vivo numa geometria
Mas quero estudar Pediatria.
BARRA MANSA DE OUTRORA
Terminada a Segunda Grande Guerra Mundial, em 1945, quase todos os países ficaram em grandes dificuldades financeiras, mas aqui nesta cidade de Barra Mansa, éramos felizes, pois a simplicidade e a juventude são para todos nós dádivas e bênçãos de Deus. Por isso é que este período será sempre o mais caro.
A Avenida Joaquim Leite era o palco de nossa grande atração, nossa passarela, principalmente aos domingos, feriados e dias santos, onde desfilávamos felizes e sorridentes, trajando nossas melhores indumentárias.
Naquela época não havia boutique e sim as grandes e famosas costureiras: dona Penha, dona Adélia, dona Zilda, dona Emília, Diva e suas irmãs, dona Lelé e outras, as quais se emprenhavam com todos os recursos para tornar as barramansenses as mais belas e bem vestidas da região. Os vestidos eram confeccionados com todo carinho, criatividade e imaginação. Empregavam-se os mais famosos bordados, miçangas, vidrilhos, paetês, rendas, bainhas abertas, crivos, plissês, contando ainda com o bom gosto das grandes e eficientes profissionais. [...]
(Alzira Ramos. GREBAL. 2007)












Outras atividades:

Entrevista - página 28
Exposição – página 29

Oficina de poesias

Oficina de Poesias

Dicas de Evelyn Heine para quem
quer fazer poesias divertudas.

Você sempre quis fazer suas próprias poesias, mas não sabia nem por onde começar? Seus problemas acabaram! Acompanhe nossas dicas para fazer desabrochar seu talento poético.

1. Sobre o que você quer falar?
Um bom assunto é aquele que está mexendo com você ultimamente. Pode ser qualquer coisa, qualquer sentimento. Poesia é uma forma de comunicação. Pode ser romântica, engraçada, de suspense... Você manda!

2. Soltando as palavras
Pegue um papel e vá anotando várias palavras que tenham a ver com o assunto. Tente achar rimas para elas. Não precisa pensar muito. Brinque de rabiscar palavras. Quanto mais, melhor. Depois você escolhe as preferidas.

3. A primeira frase
Você não precisa acertar logo de cara. É justamente a vontade de acertar de primeira que “emperra” o pensamento. Você é livre para escrever e apagar o que quiser, mudar tudo de lugar... Solte o verbo! Não tenha medo...

4. Como rimar?
Existem vários jeitos de combinar rimas. Podemos, por exemplo, numa poesia de quatro linhas (A, B, C, D), rimar:
A com B e C com D (primeira com segunda e terceira com quarta), ou
A com C e B com D (primeira com terceira e segunda com quarta), ou
Apenas B com D (segunda com quarta linha).

Veja este exemplo:
EU QUERO UM MUNDO MELHOR,
UM MUNDO MAIS “SIM” DO QUE “NÃO”.
SERÁ QUE É TÃO COMPLICADO
VER O OUTRO COMO IRMÃO?
(Evelyn Heine)

O truque para deixar mais legal uma poesia é procurar palavras de tipos diferentes para rimar. “Irmão” é um SUBSTANTIVO e “não” é um ADVÉRBIO. (Viu como é bom saber Português?)
Não precisa ser na poesia inteira, mas, se conseguir, ótimo.

Veja como ficaria mais pobre deste outro jeito:
EU QUERO UM MUNDO MELHOR,
UM MUNDO COM MAIS UNIÃO.
SERÁ QUE É TÃO COMPLICADO
VER O OUTRO COMO IRMÃO?
(Evelyn Heine)

Reparou? "União" (SUBSTANTIVO) com "Irmão" (SUBSTANTIVO) não dá o mesmo efeito, não é?
Além disso, inventar novos papéis para as palavras enriquece sua poesia. Um “mundo sim” serve de exemplo porque transformamos o “sim” (ADVÉRBIO) em adjetivo.



OUTRA!
Vamos tentar, agora, uma poesia mais curtinha, só de três linhas, rimando A com C (primeira com terceira).

MEU CORAÇÃO ARDE... AI, AI!
TUDO CHOVE SÓ PORQUE
ELE ME DISSE UM BYE!
(Evelyn Heine)

Primeiro tive a idéia de rimar “AI” (onomatopéia de dor) com a palavra em inglês “BYE” (que se pronuncia “bai”). Não é legal?
Então... fui imaginando o que combinaria com “AI”.
Pensei na dor de uma paixão não correspondida.
Depois inventei a última linha (Ele me disse bye = foi embora) e ficou faltando a do meio.
Dei um jeito de ligar as duas com a que faltava.
Primeiro imaginei “isso tudo só porque”... mas aí veio uma frase mais forte – “hoje chove só porque”... – e outra melhor ainda (mais sentimento!): "TUDO chove só porque".
Viu só? A gente vai mudando até gostar do conjunto! Você precisa ficar contente com sua obra!

E ATENÇÃO!
Chover é um verbo que não tem sujeito. Por isso mesmo “tudo chove” causa impacto.
É impossível que as coisas chovam! Mas isso exprime a tristeza da situação. Por isso a poesia emociona mais do que dizer apenas: “estou triste porque ele não gosta de mim”.

5. Não saia do ritmo!
O nome do “ritmo”, em poesia, é MÉTRICA.
Resumindo, sem complicar muito, você precisa ver se a leitura fica gostosa ou não.
Os poetas costumam calcular sílabas, ver como elas se juntam nas palavras vizinhas e tal.
Faça o seguinte: sua poesia não “encaixou” direito? Parece que fica uma “ponta” sobrando em alguma parte?
Então troque palavras, inverta a ordem... até seu ouvido ficar satisfeito.
Os poetas de antigamente tinham até que escrever números exatos de sílabas.
Veja o ANTES e DEPOIS a seguir. Compare!

ANTES
PINGA O PINGO INSISTENTE.
PING, PING RITMADO
SÓ PARA AMOLAR A GENTE!

DEPOIS
PINGA O PINGO INSISTENTE.
PING, PING RITMADO
SÓ PRA AMOLAR A GENTE!

Você sabia?
Uma rima feita com palavras do mesmo tipo (mesma classe gramatical), chama-se RIMA POBRE.
Já uma outra feita com palavras de tipos diferentes, chama-se RIMA RICA.
Melhor ainda se você rimar palavras com estruturas totalmente diferentes. Aí o nome é RIMA PRECIOSA (“vê-lo” com “cabelo”, por exemplo).


Atividades
1. Vamos ouvir o poema de Mário Quintana:
Cidadezinha
Mario Quintana
Cidadezinha cheia de graça...
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça...
Sua igrejinha de uma torre só...
Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca nem um segundo...
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!...

Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!

Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha... Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar...
Prosa e verso. 9ª ed. São Paulo: Globo, 2005.
© by Elena Quintana.
Depois de ouvir, responda:
a) Quantas estrofes apresenta o poema?
b) Quantos versos há em cada estrofe?
c) Há rima no texto? Em que versos?
--------------------------------------------------------------------------]
2. Escreva cinco palavras que se relacionem à imagem.

Use as palavras e crie um poema.


3. Colecionador de cheiros troca
um cheiro de cidade
por um cheiro de neblina
um cheiro de gasolina
por um cheiro de chuva fina
um cheiro de cimento
por um cheiro de orvalho no vento.

Roseana Murray. Oficina de Redação. Leila Lauar Sacramento.


Imagine que você seja um colecionador de cheiros como o eu lírico e pense que tipo de cheiro você gostaria de trocar por outro. Por exemplo, um cheiro de fumaça por um cheiro de mato; um cheiro de peixe por um cheiro de churrasco, etc. Desenvolva essa ideias na forma de um poema.

4. Complete os espaços em branco.

O LUGAR ONDE VIVO

o lugar onde vivo não tem ________________
nem _________________________________
o lugar onde vivo não tem ________________
não tem ______________________________
nem _________________________________.
o lugar onde vivo é cheio de ______________
cheio de __________ e com direito a muita fumaça
o lugar onde vivo não é mais uma cidade
é a minha cidade. é a minha cabeça.
e a minha cidade é _________, é ______________
é ____________________.
na minha cidade, não se depende da vontade de Deus
ou da vontade de quem quer que seja
aqui você dita as suas regras e age da forma que achar melhor
se existe corrupção? é claro.
corrupção de _____________, de ______________... corrupção do moralismo.
no lugar onde vivo, existem escolas de ___________
_________________e aqui o mais importante não é ter dinheiro
é ter cabeça.
mas a minha cidade é uma cabeça.
não importa.
aqui, agora, olhando pra ela, eu vejo tudo __________
mas as roupas são tão coloridas, que compensam.
aqui na minha cidade, ninguém pinta os cabelos
é bacana ser _____________.
se eu falar mais, perde a graça.
você não quer conhecer o lugar onde vivo?
por Renata

Crônica

CRÔNICA

A última crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer um flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(Fernando Sabino)
1. O autor inicia seu texto dizendo que parou num botequim para tomar um café no balcão, procedimento que, de fato era uma forma de adiar o momento de escrever. Ao comentar sobre a falta de assunto e a vontade de terminar o ano com êxito, o cronista revela onde colhe o material para escrever.

a) Onde ele procura assunto?

b) Em que consiste esse material? Dê um exemplo.

2. Em busca de assunto, o cronista olha ao redor, vê o casal de negros com a filha e narra brevemente a comemoração do aniversário da menina.

a) Onde acontece a comemoração?

b) Qual é, aproximadamente, o tempo de duração desse fato?

3. No início do texto, o cronista afirma que perdeu a noção do essencial e que não há nada mais para contar. Levante hipóteses: na sua opinião, o final do episódio narrado confirma essa afirmação?

4. Diferentemente de um poeta, que normalmente escreve emoções, desejos e sentimentos de um eu, o cronista afirma que busca fora de si mesmo os assuntos que merecem uma crônica. Observe a linguagem empregada no texto.

a) Como é narrada a cena do aniversário?
I. ( ) De forma impessoal e objetiva, numa linguagem jornalística.
II. ( ) De forma pessoal e subjetiva, numa linguagem poética.
b) Enquanto linguagem, a crônica está mais próxima do noticiário geral de um jornal ou revista ou dos textos literários?

c) Que tipo de variedade lingüística é adotada: a padrão formal ou a padrão informal?

ATIVIDADES PARA EJA

1ª QUESTÃO:
Leia o trecho abaixo retirado da crônica de Stanislaw Ponte Preta “ A velha contrabandista” e responda as questões abaixo:

A velhinha contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega a mandouela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco? […]
- É areia! […]

a) Quem são as personagens do texto? ____________________________________________________________________
b) Onde se passa a história? _____________________________________________________________________________
c) Leia a 1ª frase do texto e destaque um artigo e um substantivo. artigo __________substantivo ______________________
d) Destaque o pronome da frase “ Todo dia ela passava na fronteira.[…]” . _________________________________________

2ª QUESTÃO:
Leia o texto abaixo e responda às questões 1 a 5
O cão e o lobo
Um cão passeava pela floresta quando topou com um lobo magro. Aos poucos os dois fizeram amizade.
- Puxa, cachorro! Como você está gordo e bem-tratado ...
- É que eu tenho um dono. Meu dono me dá três boas refeições por dia, escova meu pêlo, me dá uma casa de madeira... Em troca disso, pede que eu lhe guarde a casa dos assaltantes e lhe faça uns agrados de vez em quando.
- Só isso? Mas deve ser maravilhoso ter um dono - concluiu o lobo.
O cão então convenceu o lobo a acompanhá-lo, certo de que seu dono gostaria de ter mais um animal de estimação.
Os dois andaram por um certo tempo, até que o lobo percebeu uma coleira no cachorro.
- O que é isso? - perguntou o lobo.
- Ah, isto é uma coleira. Às vezes, meu dono se irrita e me prende numa corrente. Mas é por pouco tempo, logo eu estou solto de novo.
O lobo parou, pensou um pouco... e voltou atrás. De longe, ainda falou para o cachorro:
- Não, cachorro. Não sirvo para essa vida. Eu sei que mais vale a liberdade com fome do que o luxo na prisão.
Fábula recontada por Marcia Kupstas.
1. Quem são os personagens do texto? ____________________________________________________________________
2. Nessa história, qual é a diferença física entre o cão e o lobo? __________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Onde acontece a história? _______________________________________________________________________________
3ª QUESTÃO:
Escreva a classe gramatical das palavras destacadas no texto abaixo. Leia o texto com atenção!

Um _____________________________ cão ___________________________________ passeava ________________________
Dois ____________________________ gordo ________________________________ meu ____________________________
4ª QUESTÃO:










O passageiro vai iniciar a viagem
(A) à noite.
(B) à tarde.
(C) de madrugada.
(D) pela manhã.

5ª QUESTÃO:

A raposa e as uvas

Num dia quente de verão, a raposa passeava por um pomar. Com sede e calor, sua atenção foi capturada por um cacho de uvas.
“Que delícia”, pensou a raposa, “era disso que eu precisava para adoçar a minha boca”. E, de um salto, a raposa tentou, sem sucesso, alcançar as uvas.
Exausta e frustrada, a raposa afastou-se da videira, dizendo: “Aposto que estas uvas estão verdes.”
Esta fábula ensina que algumas pessoas quando não conseguem o que querem, culpam as circunstâncias.
(http://www1.uol.com.br/crianca/fabulas/noflash/raposa. htm)
A frase que expressa uma opinião é:
(A) "a raposa passeava por um pomar." (l. 1)
(B) “sua atenção foi capturada por um cacho de uvas." (l. 2)
(C) "a raposa afastou-se da videira" (l. 5)
(D) "Aposto que estas uvas estão verdes" (l. 5-6)

6ª QUESTÃO:
O motivo por que a raposa não conseguiu apanhar as uvas foi que
(A) as uvas ainda estavam verdes.
(B) a parreira era muito alta.
(C) a raposa não quis subir na parreira.
(D) as uvas eram poucas.

7ª QUESTÃO:
“A raposa passeava por um pomar.” As palavras sublinhadas: raposa – passeava – um, temos (na ordem):

(A) Substantivo – adjetivo – artigo
(B) Substantivo– verbo – pronome
(C) Verbo – pronome – substantivo
(D) Substantivo – pronome – artigo

8ª QUESTÃO:


Jim Meddick. “Robô”. In folha de São Paulo, 27/04/1993.
No 3º quadrinho, a expressão do personagem e sua fala "AHHH!" indica que ele ficou
(A) acanhado.
(B) aterrorizado.
(C) decepcionado.
(D) estressado.

9ª QUESTÃO:
Qual é a classe gramatical da palavra “este” no 1º quadrinho?
(A) Artigo
(B) Verbo
(C) Pronome
(D) Adjetivo