Introdução ao texto dissertativo-argumentativo

INTRODUÇÃO AO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

Não há uma regra ou modelo único para a construção de um texto dissertativo-argumentativo. As possibilidades para iniciar, desenvolver ou concluir um texto são muitas e dependem do tema, do conhecimento que se tem a respeito dele, do conjunto de ideias que se pretende desenvolver, do enfoque que se deseja dar a elas e da criatividade de quem escreve.

Veja os padrões mais recorrentes de parágrafos, que podem servir de modelo, sobretudo para iniciar um texto:


Declaração: o mais comum de todos, em que o autor afirma (ou nega) alguma coisa, para depois apresentar seus fundamentos. Veja o exemplo:
“O Rio de Janeiro vive sob o domínio do medo. Até quando?, perguntou o Jornal do Brasil na primeira página da edição desta quarta-feira. A pergunta poderia ser desdobrada em incontáveis interrogações, todas perturbadoras”. [...]
(Jornal do Brasil. 19/4/2007)

Definição: semelhante ao anterior, apenas mais explicitamente didático – sendo muito comum nos textos em que a dissertação seja o processo de composição dominante. Pode ocupar só a primeira frase ou todo o primeiro parágrafo. Exemplo:
"O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana”.
(ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires.Temas de Filosofia)

Alusão histórica: traz a narração de um fato histórico, lenda ou simples episódio (fictício ou real) de que o autor lança mão para desencadear a exposição de determinada ideia. Veja:
"Era uma vez dois caçadores perdidos numa floresta, já sem munição, quando surgiu um leão. Enquanto um deles começava a correr, o outro tirou da mochila um par de tênis especial e começou a calçá-lo, calmamente. O que corria parou, espantado, e alertou: 'Não adianta, o leão corre mais que você'. Ao que o outro respondeu: 'Não preciso correr mais que o leão. Só preciso correr mais que você'". (Merval Pereira, em artigo para O Globo)

Interrogação: aquele em que o autor começa abertamente por uma pergunta, cujas respostas em geral constituem o desenvolvimento e a conclusão, do parágrafo ou de todo o texto. Como neste exemplo:
"Até quando quem vive no Rio sofrerá as consequências da guerra urbana desencadeada por traficantes e bandidos com prontuários quilométricos? Até quando vítimas de perdas que provocam a dor que não passa – como os pais do menino João Hélio, ou de crianças fulminadas por tiroteios rotineiros – vão chorar o choro da desesperança, as lágrimas dos perplexos? Até quando multidões de moradores das grandes cidades sairão de casa sem saber se voltarão?”
(Jornal do Brasil. 19/4/2007)
A pergunta não é respondida de imediato. Ela serve para despertar a atenção do leitor para o tema e será respondida ao logo da argumentação.

Ilustração: é possível começar narrando um fato para ilustrar o tema. Pode-se fazer a coesão do parágrafo utilizando a palavra tema, para retomar a questão que vai ser discutida. Observe:
“O jornal do Comércio, de Manaus publicou um anúncio em que uma jovem de dezoito anos, já mãe de duas filhas, dizia estar grávida,mas não queria a criança. Ela a entregaria a quem se dispusesse a pagar sua ligação de trompas. Preferia dar o filho a ter que fazer um aborto.”
O tema é tabu no Brasil...
(Antônio Carlos Viana, O Quê, edição de 16 a 22 jul.)

Esses modelos (e outros que existam) não devem ser encarados como uma camisa-de-força para a arte da escrita. Ao contrário: trata-se de possibilidades a que a maioria das pessoas recorre, na hora de escrever.
Certamente, a experiência e a criatividade também contam, e sempre oferecem novas opções. Por isso, sempre haverá "exceções", na leitura (e na criação) de textos concretos.

Portanto, não se iniba: recorra aos modelos de parágrafos introdutórios, sempre que sentir que "as ideias estão custando a chegar". No fim das contas... é assim mesmo que elas chegam!








Atividades

1ª QUESTÃO:
Entre os temas sugeridos a seguir, escolha dois deles e crie parágrafos de introdução para textos dissertativos-argumentativos, fazendo uso de procedimentos diferentes.
• O trabalho infantil
• Aborto
• A educação no Brasil
• A violência nas grandes cidades
• Combate às drogas












2ª QUESTÃO:
Sublinhe a ideia central ou tópico frasal de cada tese dos seguintes fragmentos dissertativos.
a) O medo vai transformando o espaço público em cenário não de convivência, mas de ameaça. Daí a busca permanente de reclusão, afastando o contato humano, num constante ressentimento. Os laços de solidariedade obviamente vão se perdendo, num círculo vicioso de individualismo. Impera, portanto a ideologia do “dane-se o resto”. Não é mais uma comunidade, mas um aglomerado de seres desconfiados.
(Gilberto Dimenstein)


b) O mais importante de todos os sinais é a palavra, sem a qual não seria possível a convivência humana, e a própria sociedade inexistiria, dada a impossibilidade de intercâmbio linguístico. Sem esse extraordinário suporte, desapareceria a cosmovisão que o homem tem das coisas e nem se chegaria ao desenvolvimento. Com a ausência do código linguístico oral ou escrito, sem ideias ou conceitos, seria possível existir cultura, progresso e civilização? É óbvio que não, pois as palavras são o sustentáculo de toda essa gigantesca arquitetura chamada civilização.
(Alberto Mesquita de Carvalho)


c) O homem é capaz de cometer as maiores barbaridades em nome de Deus. Para os que matam ou morrem pela religião ou pela ideologia, nada mais há em comum entre os fins e os meios. Os meios vão muito além dos fins. Na verdade, religião e ideologia não passam de álibis para esses meios.
(Eugène Ionesco)

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